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terça-feira, 13 de abril de 2010

"ADOLESCÊNCIA HOJE"

Cada cultura e cada época resolveram à sua maneira a passagem da infância para a vida adulta. Em muitas sociedades tribais, após um ritual de iniciação, que pode durar dias ou semanas, os jovens ou as jovens são admitidos no mundo adulto como seres completo, autônomos e responsáveis. Na sociedade ocidental, a adolescência tem-se transformado em longa moratória, cheia de angústiaa e incertezas, sem rituais claros de passagem. Deixados no limbo, os jovens de hoje estão carentes de grupos de convivência e de pontos de referência para a construção do seu projeto existencial.

À crise de crescimento representada pela adolescência em todos os tempos, acrescenta-se hoje a crise decorrente da fragmentação das cosmovisões, da dissolução das grandes utopias. Chega ao acaso a crença de que a tecnologia e a ciência trariam para a humanidade progresso, bem-estar, justiça social e dignidade. Para muitos, este é um tempo sem sonhos, na não ser os de consumo; e sem ética, a não ser a da produção e do lucro. Tempo de cisão interna, em que a sociedade e o altruísmo valem na esfera privada - nas relações familiares e de amizade, mas não na esfera pública ou nas relações de mercado. Tempo em que a tecnologia tornou-se visível a totalidade da Terra e possível o acesso a tudo o que acontece no mundo em tempo real, mas espoliu a natureza, devastou o planeta.

Os jovens dos anos sessenta e setenta viveram muitas utopias: a das revoluções armadas, do socialismo, a da paz e amor. Os dos anos noventa para os dias atuais vivem a sociedade globalizada, que uniformiza produtos, costumes, moda, ideais de vida e sonhos. Sem raízes, sem referências para construir a própria identidade, não têm contra o que se rebelar ou a quem hostilizar. Estão em outra, indiferentes ao mundo adulto.

É nesse quadro que os programas de educação têm que atuar, procurando situar-se na fronteira, na interface das práticas de saúde física e mental, das práticas éticas, tradicionalmente vinculadas à religião (entendida aqui como experiência do sagrado) e das práticas estéticas, vinculadas à moda e à arte (música, dança, teatro, cinema), elementos capazes de mobilizar, no nível profundo, as representações subjetivas dos jovens. Nossa prática educativa tem de ser expressão do pensamento transversal de que fala Félix Gattari, ou seja, tem de ser capaz de transpor limites, de fundir o conhecimento percentual, afetivo, conceitual e atitudinal, apoiando o adolescente de hoje na criação de um projeto pessoal como cidadão.

É tarefa da educação buscar desenvolver no jovem o sentido de valor pessoal que a capacidade de gostar de si mesmo, de conviver e realizar trabalho, e de poder pessoal que é a capacidade de influir nas relações com os outros e em seu ambiente social. Sem programa ideológico, sem massificação ou uniformização de comportamentos, temos de buscar os impulsos de vinculação e atuação solidária.
Por Lucimar Negrão

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